Em tempos de SSD e com inicialização cada vez mais rápida, vale a pena manter os consoles o tempo todo em modo de descanso?
Há pouco tempo, a Microsoft divulgou um relatório de sustentabilidade apresentando as ideias da companhia em relação ao meio ambiente e ao consumo de energia em seus produtos. Entre as ações que serão tomadas pela empresa, está a adoção do modo de economia de energia como padrão nos consoles Xbox Series S e Series X. Mas não é só a Microsoft que se preocupa com isso.
PlayStation 5 e Nintendo Switch também têm modos de stand-by para que você possa ligá-los e voltar ao jogo do ponto em que parou, além de manter seus games e console atualizados no instante em que você sentar no sofá para jogar. Mas a pergunta que fica é: o consumo é tão baixo a ponto de valer mesmo a pena mantê-los na tomada por essas vantagens?
Antes de mais nada, é preciso entender como isso funciona. Já faz algum tempo que os consoles se parecem muito com computadores — no caso do Switch, com um tablet — em seu funcionamento e, por mais que eles possam adotar nomenclaturas comuns do mercado para torná-las acessíveis a todos os consumidores, o modo stand-by dos consoles não é exatamente como o dos eletrodomésticos.
Na verdade, eles estão mais próximos de um modo hibernar, como explica o técnico em eletrotécnica Henrique Mattede, do site Mundo da Elétrica:
“O stand-by de vários aparelhos é apenas aquela luz de sinalização e relógio, ou um display indicando alguma informação. Geralmente, esses são aparelhos operados por controle remoto, pois a parte eletrônica precisa ficar minimamente ligada para receber um comando externo para acionar.”
Ele continua, explicando que, no modo hibernar, “todo o hardware e software tem a predisposição de voltar a funcionar exatamente no mesmo ponto em que foi deixado anteriormente. No PC, por exemplo, com páginas e programas abertos, porém consumindo o mínimo possível”.
É importante pontuar que qualquer tipo de stand-by consome energia. A quantidade pode ser muito menor em comparação com o consumo de uso, mas ainda assim vai afetar a sua conta de luz ao final do mês. Segundo dados do Inmetro, aparelhos em stand-by consomem até R$ 2,00 por mês, a depender da sua tarifa local. O valor pode parecer mínimo, mas em uma realidade de residências cada vez mais cheias de aparelhos e conectadas, esse consumo é acumulado e pode tornar-se um problema para quem deseja economizar energia por razões financeiras — sem contar as questões ambientais que o alto consumo gera em países onde a matriz energética não é, em sua maior parte, renovável. Em muitos casos, sem perceber, esses aparelhos podem representar até 12% do consumo total de uma residência.
Quanto consome a atual geração de consoles?
Os Xbox Series S e X têm dois modos de stand-by diferentes: o já mencionado modo de economia de energia e o de inicialização instantânea. Até a divulgação do relatório citado acima, o segundo modo costuma ser padrão na maioria dos países nos quais os consoles são comercializados. Ele consome mais energia que o econômico, com a vantagem de inicializar o console mais depressa, coisa de 10 segundos a menos, já que tecnicamente está sempre ligado, só consumindo menos.
Porém, muitos donos de consoles sequer sabem que essas opções existem desde a geração anterior e podem fazer muita diferença no consumo de energia quando comparadas diretamente. Esse foi o trabalho da organização de proteção ambiental NRDC que, em 2021, mediu o consumo dos dois consoles da atual geração para entender como eles poderiam ser classificados em matéria de sustentabilidade.
Eles descobriram que, quando ligados, Series X e PS5 consomem entre 160 e 200 ou mais watts de eletricidade, mais que os consoles das gerações anteriores. Para comparação, o Xbox One consome até 112 watts ligado, enquanto o PS4 chega a consumir 137. A coisa muda um pouco de figura quando essas mesmas plataformas passam a rodar jogos em retrocompatibilidade, já que eles consomem bem menos energia processando jogos antigos, segundo os experimentos feitos pela NRDC. Onde a geração atual se sobressai é no consumo no modo de descanso.
Ambas as plataformas da geração atual apresentam níveis de gasto abaixo do 1 watt na configuração mais econômica, sem perder funcionalidades como a retomada rápida e atualização em segundo plano. Isso acontece, em parte, graças à introdução do SSD, que permite um acesso mais rápido e eficiente aos dados, consumindo menos energia. Mesmo assim, a energia continua sendo gasta para manter esses confortos e é aí que tudo vai depender do seu contexto de uso.
Quando ligados, os consoles seguem como inevitáveis gastadores. Os testes da NRDC mostraram que quando usados para assistir serviços de streaming, por exemplo, Xbox Series e PS5 consomem mais do que aparelhos dedicados a isso, como o Fire Stick TV e, claro, as smart TVs — algo em torno de 30 a 70 watts, quase 25 vezes mais do que o consumo dos aparelhos dedicados. Isso torna questionável o uso para esse fim, caso seu objetivo seja economizar na conta de luz.
Por conta de tudo isso, essa discrepância entre o quanto os consoles gastam ligados ou em stand-by faz a decisão de tirá-los ou não da tomada ir além de preferir ter acesso instantâneo aos jogos e a atualizações automáticas. Afinal, se eles passam a maior parte do tempo ligados processando jogos ou algum outro aplicativo, a diferença entre desligar da tomada ou não será pouca.
Mas para quem só liga os aparelhos algumas horas por dia ou por semana, desligá-los completamente enquanto não estão sendo usados pode ser uma boa escolha, mesmo precisando gastar alguns minutos a mais esperando o download das atualizações ou não podendo continuar o jogo exatamente do instante em que parou.
Henrique Mattede acredita que o modo stand-by dos consoles seja mais indicado para “quem é, digamos, profissional, e-esportista ou streamer, considerando a necessidade de, às vezes, manter o jogo no mesmo status anterior”, mas sem esquecer que “estamos em uma época de economizar. Além da questão ambiental que, na economia de energia, acho que vale muito a pena observar.”
E onde entra o Switch?
Embora tenha sido lançado alguns anos antes de PS5 e Series S/X, o Nintendo Switch pode entrar na nossa apuração por ser a plataforma mais recente da empresa, apesar de não concorrer diretamente com os outros dois. A questão é que até nisso ele corre sua própria corrida. Por ser híbrido e ter a arquitetura baseada na de um tablet, este console precisa ser olhado de forma diferente, já que além da diferença entre stand-by e funcionando, há o quanto ele consome quando está carregado e descarregado.
E mesmo sem estas variações, o nível de consumo dele está tão abaixo dos outros consoles, que fica até difícil classificá-lo de alguma forma. Segundo dados da própria Nintendo, o consumo do Switch no Sleep Mode consegue ser ainda mais baixo que o dos consoles de Sony e Microsoft, porém isso só acontece quando a bateria dele está totalmente carregada, precisando de até 3 horas e meia para completar a carga total. Enquanto carrega, ele pode consumir até 12 watts se estiver em stand-by, um gasto mais alto do que o normal enquanto está ligado e rodando algum jogo. Por também poder ser jogado em modo portátil, eficiência no consumo energético é fundamental para tornar o Switch um console viável em sua duração de bateria.
Isso o coloca em uma categoria diferente, porque o fato de precisar mantê-lo carregado faz o consumidor mudar seu padrão de uso em relação a um aparelho que não precisa estar sempre ligado à tomada, mas que ainda depende dela para manter a bateria carregada.
Consumo consciente
Estamos vivendo tempos nos quais nosso consumo de energia precisa ser repensado com foco na sustentabilidade, seja financeira ou ambiental. Com as tarifas de luz crescendo mês a mês, é importante entendermos como funcionam os eletrônicos que temos e de que forma podemos usá-los com mais inteligência para diminuir o consumo, sem atrapalhar tanto nossa rotina.
No caso dos consoles, o que seus respectivos modos stand-by entregam é praticidade e conforto às custas do consumo constante de energia elétrica, ainda que em uma quantidade muito menor do que acontece quando estão de fato desligados. Então é importante entender como isso se encaixa no seu padrão de consumo e de que forma essas informações vão te ajudar na hora de tomar uma decisão.
Afinal, ainda que abrir mão do stand-by apenas nos consoles faça alguma diferença, isso não vai impedir o consumo de outros eletrônicos na sua residência, que também gastam alguma energia de forma constante mesmo quando não estão sendo usados.
A geração mais recente de consoles, e mesmo o Switch, oferecem a inicialização ainda mais rápida como opção para uma que já é bem veloz graças aos sistemas de armazenamento de acesso mais ágil, com a atualização em segundo plano como grande vantagem em tempos de updates gigantescos. Com isso em mente, fica mais fácil saber qual decisão tomar na hora de jogar em seus consoles.